A286 A286 - O Eterno Retorno Ao Grande Nada

Periferia produz uma fruta estranha
Seu aroma deixa de estar nos nossos dias
Rosas, minas, monas, mulheres, companheiras enterradas
Nos Jardins das almas esquecidas

A estranha colheita do feminicídio como se fossem ervas daninhas
Asfixia ao trans, travesti a dor é legítima, quantas plantas mortas por essas fitas?
Visão de revolução é contra a elite racista
Rap de direita merece tiro e facada em fascista

Menos doação pra criança pobre do que animais
Os deveres são plenos, os direitos não iguais
Tomaram suas mentes com Wi-Fi's
Orgulho do gueto lágrimas secas, enquanto chove a mil por hora

Onde ninguém se move, o rico ostenta seu lixo de 5 toneladas
Tomamos em goles de dor a cerveja na quebrada
Compramos ilusão em pit stops pensando em praias
A vida se tornou um eterno retorno ao grande nada

De tudo o que me incomoda, privilégios de todos os lados
Cobrança dá 100% de gás por nada
E se 10 vezes se batizar não muda
Igreja não lapida conduta

A cada escola que faço palestra, é um palco que deixo de ir
É um menino a menos ególatra que deixa de ruir
Riram quando eu disse que o livro pode salvar
Agora reclama nos bares que saí do lugar

Estou preso no copo de alguém, engoli os choros
Comi as lágrimas, não digo amém
Eu e a morte não nos damos bem
Ela me roubava amigos, te amo também

Escrevi essa fita porque assinei o artigo A286
Com o mundo nos ombros sem brincadeira
E o suor escorrendo de tanto carregar
Uma pá de gente que não consegui resgatar

Produtivo, doente, obeso, inconsequente
Maloqueiro, escritor envolvido com os bagulho
De vez em quando alguém me tira da caixa, tira o pó
E me põe no show com outros entulhos

Em outros estados todos se misturam
Em São Paulo é isso mesmo meu querido
Treta de rua, bairrismo, bombetas e símbolos de fênix
Seu namastê não faz efeito

Somos problema e matamos a solução
Somos o caos porque a ordem nunca foi ostentação
Ferréz e A286 rap de verdade, literatura marginal na fé
Pra fazer comedor de Nutella voltar de marcha ré